segunda-feira, 27 de abril de 2009

MOSAICO


MOSAICO ÉTNICO RACIAL



Trabalho em uma escola municipal de periferia, onde não é possível fazer árvore genealógica, pois há muita separação de casais e muitas crianças vivem com avós, sem mesmo conhecer seus verdadeiros pais, ou conhecem apenas um deles. As famílias não são tradicionais, pai, mãe e filhos. Há vários tipos de famílias
Para a proposta do mosaico eles deveriam conversar em casa sobre suas origens e trazer uma foto da família ou deles mesmos. Quem não tivesse poderia desenhar ou trazer uma imagem de revista.
Tenho 28 alunos de um terceiro ano (2ª série), onde houve muita dificuldade para relatarem sua identidade cultural, pois há antepassados de raças diferentes e muitos nem sabem como eram seus antepassados, porque foram abandonados pelos pais ou moram longe de seus familiares.
Comecei contando a história da Menina bonita do laço de fita, onde fala de um coelho branco que viu uma menina pretinha e queria ser igual a ela. Ele sempre perguntava à menina o que ela fez para ficar tão pretinha e tão bonita. Ela foi dizendo várias coisas como: tomou muito café, comeu muita jabuticaba, caiu na tinta preta. O coelho ia sempre tentando fazer o que a menina dizia e nada dava certo. Até que um dia ele descobriu que a menina era assim por causa de sua origem, tinha pais e avós pretos. Então ele concluiu que não poderia ser preto, mas poderia ter filhos pretinhos se casasse com uma coelha pretinha. Casou-se com uma e teve filhos de várias cores, uns brancos, uns pretos, uns brancos com pretos e uns bem pretos. Assim ele ficou muito feliz.
Os alunos adoraram a história.
Então começamos a observar as fotos que cada um tinha na mesa, ou a gravura. E fomos conversando o que cada um tinha de parecido com a foto. Eles acharam várias semelhanças, o nariz a boca, os cabelos, os olhos (formato, cor),a cor da pele. Iam contando quem da família possuía as características que eles tinham. Assim foram descobrindo que o que somos é o resultado dos nossos parentes. Cada um pode relatar o que havia perguntado em casa sobre sua família. Tem um menino bem pretinho na sala, ele disse que só o pai dele é daquela cor, mas ainda com um pouco de vergonha para fazer o relato. Conversamos sobre filhos, se queremos ter filhos pretos com quem devemos casar? Se quisermos ter filhos brancos com quem devemos casar? Mas mesmo casando com alguém da cor que queremos ter filhos, pode acontecer de ter alguns com cores diferentes. Então eles relataram que tem irmão na família que são um pouco mais claros ou mais escuros, conversamos que isto é porque existe algum parentesco com uma etnia clara talvez alguma avó ou bisavó.
Notei que alguns tinham características de índios, perguntei se tinha na família algum índio eles só responderam que sim, com bastante vergonha. Alguns alunos não falaram nada sobre sua família, nem souberam dizer com quem eram parecidos. Sabendo como as famílias da escola são compostas, não insisti.
Na minha escola somos três estudantes de Pedagogia do Pead, então expomos os mosaicos no corredor para socializar com as turmas e o restante da escola. Todos adoraram ver seus amigos, primos, parentes nas fotos. Mostravam e comentavam com os colegas.
Acredito que expondo as várias raças que temos em nossas famílias, todos podem constatar que em todas as famílias há uma mistura, que não precisamos ter vergonha do que somos, valorizando assim a nossa identidade cultural e procurando saber um pouco mais de cada uma, para podermos ter um conhecimento melhor da nossa identidade

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Silvia, bem escrita essa tua postagem! Comentas de forma bastante objetiva sobre os diversos momentos da atividade que realizaste com a tua turma, além de trazeres reflexões sobre a interdisciplina. Abração, Sibicca